Período: Novembro/2024 | ||||||
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Ibovespa
O Ibovespa encerra hoje uma semana de tirar o fôlego dos investidores, a polêmica "Super Semana". Os balanços das big techs puxaram a queda, após Apple, Amazon e Alphabet (a dona do Google) também sofrerem no after hours em Nova York. Nessa sexta-feira (3) foram divulgados dados sobre o emprego nos Estados Unidos. O payroll contrariou as expectativas e apostou em cortes nos juros ainda neste ano, divulgando a criação de 517 mil vagas de trabalho em janeiro, ante expectativa do mercado de 189 mil. A taxa de desemprego também caiu para 3,4%, de 3,5% no mês anterior e 3,6% projetado, já o salário médio (por hora) subiu 4,4%, contra 4,9% anterior e 4,3% estimado.
No geral, o quadro é de cautela. O Ibovespa amenizou a queda logo após a divulgação do payroll dos Estados Unidos, cujos dados de geração de vagas superaram o esperado pelo mercado. Em seguida, diminuiu o ritmo de baixa. Nos Estados Unidos, também queda nos ativos, com recuo dos índices de ações e alta dos Treasuries.
O desemprego um pouco abaixo do esperado endossa mais a visão do Fed de juros altos por longo período. Sei que está em linha com o que o Fed tem falado - mercado de trabalho forte, mas sem espiral de salário - mas o mercado parece que não gostou. Os dados de emprego só mostram que o mercado de trabalho está apertado, que continua não sentindo muito os efeitos da política monetária. Ainda é muito cedo para dizer que a batalha contra inflação está ganha nos Estados Unidos.
Os fatores políticos do Brasil também impactam na volatilidade do Ibovespa. Na quinta (2), o presidente Lula endossou as críticas à Selic, à meta de inflação e disse querer entender para que serviu o novo status do Banco Central. O presidente disse ainda que pretende esperar o fim do mandato de Roberto Campos Neto na presidência da instituição, para avaliar o sentido de um BC independente e disse que "vai começar a cobrar" explicações do motivo pelo qual a taxa de juros está em 13,75% ao ano.
Os comentários de Lula tendem a elevar as incertezas em torno do cenário de inflação, o que resultará em maiores juros no Brasil e maior instabilidade política. Com as eleições do Congresso Nacional definidas, o mercado precisa de um movimento de tranquilidade, para finalmente focar única e exclusivamente na economia do país. Esses comentários podem significar que estamos próximos de mudança significativa na configuração do Copom
Nessa sexta-feira (3) o Ibovespa se afastou das mínimas e buscou a estabilidade, em meio à recuperação de Petrobras e da Vale, que ajudam a atenuar a pressão vinda do ambiente desfavorável a risco no exterior.
Dólar
Desde o inicio da semana o dólar vem perdendo valor no mundo, o que favorece o real e a que tudo indica deve permanecer com o fim do ciclo de alta nos juros nos EUA e o bom diferencial de juros interno e externo, além do enfraquecimento de pautas políticas com impactos fiscais em Brasília e estresses de transição de governo.
No exterior, a inflação torna a tarefa dos bancos centrais cada vez mais difícil, e os mercados vêm precificando cada vez mais a possibilidade de uma recessão como consequência da alta de juros em grandes economias. Isso aponta para um dólar mais alto nos próximos meses, mas há sinalizações na direção contrária também.
Quando o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) interromper a alta da taxa americana, o que pode acontecer no final do primeiro trimestre de 2023, a moeda deixará de se valorizar, e isso pode beneficiar divisas de emergentes.
O Brasil, por não ser envolvido nesses conflitos geopolíticos, regimes autoritários ou restrições à circulação, como Rússia, Turquia e China, pode se destacar se esse cenário se concretizar, ainda mais se levarmos em consideração que o país tem a maior taxa de juros real do mundo.
Não vejo um cenário de estresse para o câmbio. No Brasil temos uma moeda bastante ligada a commodities, onde os preços devem ceder, mas que provavelmente devem se manter em um patamar entre 20% e 30% acima do pré-pandemia. Mas vale frisar que esse é um efeito que deve balancear a incerteza do cenário fiscal negativo e do aumento dos juros internacionais no médio prazo. Em um cenário com alguma contenção fiscal para a sustentabilidade da dívida, acredito em uma trajetória de alta suave do dólar.
Nos EUA, ainda haverá algumas altas residuais dos juros, e o diferencial de juros pressiona o dólar. O segundo fator é a alta da dívida líquida, que tem a ver com o cenário fiscal e que também coloca pressão no dólar. Além do cenário de queda das commodities lá fora, por causa da desaceleração global.
Uma eventual reabertura maior da China, que vem sinalizando para a flexibilização da política de Covid zero, pode estimular o país a elevar a demanda por commodities. Mas vale ressaltar que também tem a crise no mercado imobiliário chinês, o que significa que esse não é um problema que será resolvido esse ano.
Em suma, precisamos continuar medindo o pulso de como fica a situação fiscal, para analisar com maior clareza como serão os próximos meses da economia brasileira.
Como o Ibovespa deve ser impactado?
Um dos principais efeitos da alta na taxa de juros americana é sobre os ativos brasileiros, que consequentemente se tornam menos atraentes para os investidores estrangeiros. Com menos capital disponível, a chance de que as ações de empresas listadas na Bolsa brasileira sejam negociadas diminuem cada vez mais.
A tendência é o real ficar mais pressionado por esse aumento na taxa de juros do Fed. Em condições normais, isso é uma pressão contra a valorização do real. Quanto maior a taxa de juros do Fed, menor o espaço para a apreciação do real.
Os próximos meses serão importantes para inflação e para os juros. A expectativa é de que a autoridade monetária realize os primeiros cortes na Selic já em agosto deste ano. Importante frisar que a Selic se encontra em 13,75% desde agosto do ano passado, antes disso, o Banco Central realizou 12 altas na taxa de juros. Até agora, a economia brasileira vem bem e está surpreendendo, mas isso tem muito a ver com a reabertura do pós-pandemia. Não deve durar para sempre, toda essa recuperação cíclica uma hora chegará ao fim e precisará encarar a realidade.
Quais ações devem ser afetadas?
Empresas cuja atuação está atrelada à variação do dólar são diretamente afetadas pelo câmbio, por isso é fundamental que nos próximos meses os investidores desenvolvam uma maior capacidade de análise do contexto do mercado, sempre com cautela. Afinal, em muitos casos, para mitigar os riscos, as empresas fazem operação de hedge, a fim de se proteger da variação do dólar.
O ideal é ser criterioso e manter um portfólio de ações na carteira, optando por aquelas que apresentam melhor estabilidade diante do cenário atual.
Quais ações devem ser beneficiadas?
Na teoria, a moeda norte-americana em queda é um sinal de que o cenário político-econômico nacional pode não não estar bem. Já quando a moeda se estabiliza, significa que a economia melhorou ou se consolidou. Se o cenário é de confiança, as chances de entrarem dólares na economia brasileira é maior, gerando apreciação do câmbio, isto é, queda do valor do dólar.
De maneira geral, as companhias que tendem a se beneficiar com o dólar alto são as que atuam no ramo de exportação ou que têm sua receita em dólar e os custos em reais. Consequentemente, são essas empresas que apresentam valorização no preço de suas ações.
Exemplos:
1. WEG (WEGE3): A WEG (WEGE3) conta com um portfólio bastante completo, atuando na geração, transmissão e distribuição de energia. Além disso, produz equipamentos eletro-industriais, tintas e verniz para a construção civil e tem presença na indústria 4.0, responsável por tecnologias de automação e troca de dados.
A vantagem competitiva da WEGE3 em relação a outros ativos é o fato de que pouco mais de 50% de sua receita é baseada em exportações e operações fora do País. Dessa forma, a alta do dólar é um ponto bem positivo para a empresa e seus investidores.
Os papéis da WEGE3 tendem a apresentar valorização com as altas da moeda dos EUA, pois metade de sua receita tem como base as operações internacionais.
2. Suzano (SUZB3): A Suzano (SUZB3) é uma exportadora no setor de papel e celulose. Como consequência, beneficia-se da alta dos preços do dólar. Considerando uma estimativa de constância nos preços da celulose e a elevação da moeda norte-americana, o aumento do EBITDA da companhia também pode ser bastante expressivo.
Analisando o cenário atual, nota-se os impactos positivos da recuperação do mercado da celulose, o que favorece a continuidade da recuperação de preços que, de forma gradual, devem continuar refletindo nos resultados da companhia e fazendo com que as ações SUZB3 sejam uma boa opção de compra.
3. Gerdau Metalúrgica (GOAU4): A Gerdau Metalúrgica (GOAU4) é uma empresa pioneira no setor de aço e na implantação de iniciativas que visam a inovação digital. Metade do faturamento da companhia é proveniente de operações nos Estados Unidos, consequentemente, essa parcela do capital é paga em dólar, o que indica que a empresa se beneficia das altas da moeda. Com isso, garante um equilíbrio à carteira de investimentos de quem compra as ações GOAU4.
Alguns pontos importantes que contribuem para a valorização dos ativos da Gerdau são a alta demanda global de aço, especialmente nesse novo ciclo de commodities, além da perspectiva positiva de retomada do setor de infraestrutura e construção civil.
Os números da Gerdau no segundo trimestre de 2021 foram bastante positivos, o que também tem relação com a valorização da moeda americana.
*Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank - uma das principais corretoras de câmbio do Brasil - também já trabalhou em multinacionais como Volvo Group e BHS. Além disso, criou startups de diferentes iniciativas e mercados tendo atuado no Founder Institute, incubadora de empresas americanas com sede no Vale do Silício. O executivo morou e estudou na Noruega e México e formou-se em administração de empresas pela FAE Centro Universitário, de Curitiba (PR), e pós-graduado em finanças empresariais pela Universidade Positivo.
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Atualizado em: 14/11/2024 21:59 |