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Como o aumento da Selic impacta na Renda Fixa

Analise da Viviane Las Casas - Especialista em Renda Fixa da Valor Investimentos

Por que a renda fixa vem atraindo cada vez mais investidores em 2024? Apenas o aumento dos juros explica isso?

Em 2024, a renda fixa tem sido o foco de muitos investidores no Brasil, e isso se deve a uma combinação de fatores econômicos e financeiros, que vão além do simples aumento da taxa Selic. Vamos entender o que está impulsionando essa tendência:

1. Aumento das Taxas de Juros

O principal fator é a elevação da taxa Selic, que atingiu 11,25% ao ano em dezembro de 2024. Isso torna os investimentos em renda fixa significativamente mais atrativos, pois oferecem retornos elevados tanto no curto quanto no longo prazo.

As expectativas também reforçam esse movimento. O Relatório Focus aponta que a taxa Selic pode atingir 12% em 2024 e continuar em níveis elevados nos próximos anos: 13,5% em 2025 e 11% em 2026. O Banco Central ainda não sinaliza cortes de juros em um horizonte relevante, alimentando a atratividade desses investimentos.

Hoje, o Comitê de Política Monetária (Copom) realiza sua última reunião do ano, e há expectativas de um aumento de 1 ponto percentual, o que manterá a Selic em patamares elevados.

2. Inflação Elevada e Persistente

A inflação é outro fator determinante. O boletim Focus prevê que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerrará este ano em 4,84%, ante 4,71% na projeção anterior. Em 2025, o índice deve acelerar para um avanço de 4,59%, de 4,40%.

Em 2024 e 2025, portanto, a inflação ficaria acima do teto da meta perseguida pelo BC -- com centro de 3% e uma margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

3. Incertezas Econômicas e Fiscais

As condições fiscais do Brasil e a volatilidade nos mercados de ações também influenciam a migração para a renda fixa. A recente aprovação de um regime de urgência para o pacote fiscal do governo trouxe algum alívio, mas os analistas consideram as medidas insuficientes. Entre os problemas apontados estão:

  • Medidas tímidas: Foco em remanejamento de despesas, e não em cortes estruturais.
  • Frustração com estimativas: Superestimação de receitas e exclusão de medidas importantes, como o ajuste no seguro-desemprego.
  • Timing inadequado: Isenções de IRPF em um momento de alta inflação foram mal-recebidas pelos mercados.

Esse cenário de fragilidade fiscal aumenta o apelo da renda fixa, visto como um porto seguro.

Expectativas para 2025

A expectativa é que a atratividade da renda fixa continue nos próximos anos, sustentada pelos fatores já mencionados:

  1. Juros Elevados: Projeções indicam que a Selic pode atingir 14,25% ao ano após maio de 2025.
  2. Pressões Inflacionárias: A inflação só deve convergir para a meta em 2026, reforçando a necessidade de manter juros altos.
  3. Risco Fiscal: Enquanto não houver um plano robusto e crível para o equilíbrio fiscal, a renda fixa continuará sendo a escolha preferida de investidores que buscam segurança e bons retornos.

A combinação de juros elevados, inflação persistente e incertezas econômicas faz da renda fixa uma das classes de ativos mais atraentes em 2024. Essa tendência deve se manter, dado o contexto de estabilidade da Selic em dois dígitos e as condições macroeconômicas desafiadoras.

· A expectativa é de que esse movimento continue? Por que?

Sim, a expectativa é que o movimento de atratividade da renda fixa continue. Diversos fatores sustentam essa projeção:

1. Juros Elevados em um Horizonte Relevante

A manutenção dos juros altos continua sendo um dos principais fatores que sustentam o atual cenário econômico. Analistas, como os da XP, projetam que o Banco Central seguirá aumentando a taxa Selic para controlar a inflação. Na última reunião de 2024, realizada em 11 de dezembro, o Copom decidiu elevar a Selic em 1 ponto percentual, atingindo 12,25% ao ano.

De acordo com o comunicado do Banco Central, o cenário doméstico apresenta um dinamismo acima do esperado na atividade econômica e no mercado de trabalho, ampliando o hiato do produto e intensificando as pressões inflacionárias. As projeções de inflação para 2024 e 2025 subiram para 4,8% e 4,6%, respectivamente, superando o centro da meta. Para o segundo trimestre de 2026, a inflação é estimada em 4,0%.

Com o objetivo de conter a inflação e alinhar as expectativas ao redor da meta, o Copom prevê novos ajustes de igual magnitude nas próximas reuniões, caso a evolução econômica e inflacionária justifique. Esse cenário reforça a perspectiva de que os juros permanecerão em patamares elevados por um período prolongado.

Esse cenário sugere que os juros permanecerão em patamares elevados por um período prolongado, o que torna a renda fixa uma alternativa atrativa tanto para proteção quanto para rentabilidade.

2. Pressões Inflacionárias Persistentes

A inflação acima da meta do Banco Central reforça a necessidade de manutenção de juros altos. O Relatório Focus prevê que o IPCA fechará 2025 em 4,59%, acima do teto da meta de 4,5%. Essa trajetória inflacionária só deve se alinhar à meta em 2026.

Esse contexto favorece investimentos em títulos atrelados ao IPCA, que protegem o poder de compra do investidor enquanto oferecem retornos reais positivos.

3. Riscos Fiscais

Outro fator importante é o cenário de incertezas fiscais. Apesar de medidas recentes, como o pacote de cortes de gastos aprovado pelo governo, analistas avaliam que as propostas são insuficientes para solucionar a questão estrutural das contas públicas. A falta de um plano robusto e crível aumenta a percepção de risco econômico, incentivando a busca por ativos seguros como os da renda fixa.

· Qual a recomendação para os investidores que querem aproveitar esse momento de juros altos para investir na renda fixa?

Com a taxa Selic em patamares elevados, o cenário atual oferece uma excelente oportunidade para investidores fortalecerem suas estratégias em renda fixa. As opções mais indicadas são os ativos pós-fixados, títulos atrelados ao IPCA+ e aqueles com isenção fiscal para pessoas físicas.

1. Ativos Pós-Fixados: Segurança com Rentabilidade

Os ativos pós-fixados, indexados ao CDI, são ideais para capturar os benefícios dos juros elevados. Eles acompanham as taxas de mercado, oferecendo proteção contra oscilações econômicas e mantendo rentabilidades competitivas. São importantes para reduzir a volatilidade da carteira e garantir maior exposição ao CDI em um incerto ciclo de aperto monetário Boas opções incluem:

  • CDBs pós-fixados: Emitidos por bancos, oferecem taxas de até 117% do CDI ou mais, dependendo do emissor e do prazo.

2. IPCA+: Proteção Contra a Inflação

Os títulos atrelados ao IPCA+ são indicados para investidores que buscam retornos reais acima da inflação. O Brasil é historicamente inflacionário devido a fatores econômicos estruturais, desequilíbrios fiscais, choques de commodities e variações no câmbio têm impacto direto nos preços internos, dado o peso das importações e exportações na economia brasileira. Esses ativos oferecem a segurança de preservar o poder de compra ao longo do tempo. Destaques incluem:

  • Tesouro IPCA+: Olhando em um histórico longo de mais de 10 anos, poucos foram os momentos em que as taxas de algumas nas NTN-Bs de vencimentos curtos e intermediários (2028, 2030 e 2035) estiveram acima de IPCA+6,5%.
  • Na última terça feira (10/12) houve Leilão de NTN-B, Papel indexado ao IPCA. Os 3 vencimentos (2029, 2035 e 2060) tiveram com a maior taxa do ano. Os Títulos 2029 e 2035 trabalhando com taxas maiores do que 7,00%aa - isso é caro demais. Essa rentabilidade, combinada com a segurança de um título soberano, os torna uma excelente opção.

3. Títulos Isentos de Impostos: Eficiência Tributária

Para investidores pessoa física, títulos isentos de imposto de renda são uma forma eficiente de maximizar os ganhos líquidos. As melhores opções incluem:

  • LCIs (Letras de Crédito Imobiliário) e LCAs (Letras de Crédito do Agronegócio): Oferecem rentabilidade atrelada ao CDI ou IPCA, com a vantagem da isenção tributária e alta segurança.
  • Debêntures Incentivadas: Voltadas a projetos de infraestrutura, são uma alternativa vantajosa para diversificação em renda fixa, especialmente em um cenário de juros elevados

Dicas Práticas para Investir

  1. Diversifique sua carteira: Combine ativos pós-fixados e IPCA+ para equilibrar segurança, liquidez e retorno real.
  2. Escolha prazos adequados: Alinhe os prazos dos investimentos aos seus objetivos financeiros, considerando curto, médio e longo prazo.
  3. Avalie a qualidade do emissor: Priorize emissores com bom histórico e ratings elevados para reduzir riscos.
  4. Aproveite as vantagens fiscais: Títulos isentos de impostos são especialmente vantajosos para investidores de longo prazo.

· Mesmo com a alta da Selic, ainda vale apostar na bolsa? Algumas ações ainda apresentam um DY superior a 12%. É uma boa opção? O que avaliar ao investir nessas ações?

Mesmo com a taxa Selic elevada, investir na bolsa de valores pode ser uma estratégia interessante, especialmente ao considerar ações que oferecem um Dividend Yield (DY) superior a 12%. Contudo, é fundamental avaliar alguns pontos antes de tomar essa decisão.

1. Dividend Yield Atraente

Ações com DY acima de 12% indicam que a empresa distribui uma parcela significativa de seus lucros aos acionistas, oferecendo uma fonte de renda passiva que pode superar os retornos de muitos investimentos em renda fixa. Recentemente, um levantamento da Infomoney identificou ações que continuam pagando dividendos superiores ao CDI, mesmo com a Selic em 11,25% ao ano. Isso reforça o potencial de geração de fluxo de caixa consistente para os investidores.

2. O que Avaliar ao Investir em Ações com Alto DY

Para aproveitar essas oportunidades, é essencial analisar os seguintes aspectos:

  • Sustentabilidade dos Dividendos: Verifique se a empresa possui lucros consistentes, baixo nível de endividamento e boa capacidade de geração de caixa. Essas características indicam uma maior probabilidade de manutenção ou aumento dos dividendos no longo prazo.
  • Setor de Atuação: Alguns setores são mais resilientes em períodos de juros elevados, como os de seguros, energia elétrica e bancos. Empresas como BB Seguridade (BBSE3) têm sido destacadas por analistas devido à sua solidez e capacidade de se beneficiar em cenários de juros altos.
  • Perspectivas Econômicas: Considere o impacto do ambiente macroeconômico sobre a empresa. Setores mais sensíveis ao custo do crédito, como imobiliário e consumo, podem enfrentar maiores desafios, enquanto setores defensivos tendem a performar melhor.
  • Valorização do Ativo: Além dos dividendos, avalie o potencial de valorização da ação. Empresas que pagam bons dividendos, mas que apresentam quedas significativas no preço de suas ações, podem não oferecer um retorno atrativo no longo prazo.

3. Contexto Atual e Perspectivas para a Bolsa

Apesar de a renda variável seguir atrativa em termos de valuation, o cenário macroeconômico atual apresenta desafios importantes.

  • Resiliência das Empresas: O menor nível de alavancagem, a maior eficiência operacional e a consolidação setorial alcançada por muitas empresas nos últimos anos indicam que elas estão melhor preparadas para enfrentar cenários econômicos adversos.
  • Riscos Fiscais e Confiança no Mercado: Um compromisso mais sólido do governo com as contas públicas é essencial para reduzir os elevados prêmios de risco implícitos nas taxas de juros de longo prazo. Contudo, medidas fiscais recentes têm frustrado expectativas, o que prejudica a restauração da confiança no mercado acionário.
  • Dinâmica de Fluxo: Mesmo com preços atrativos em algumas ações, o fluxo para a renda variável local pode continuar pressionado negativamente no curto prazo, dada a preferência atual por ativos de renda fixa.

Investir em ações com alto Dividend Yield pode ser uma boa opção, mas requer análise cuidadosa. É importante considerar a sustentabilidade dos dividendos, as condições econômicas, a saúde financeira da empresa e o potencial de valorização do ativo. Embora a renda variável apresente oportunidades interessantes, a falta de gatilhos claros para uma recuperação de confiança no mercado pode limitar os ganhos no curto prazo.

Para equilibrar riscos e retornos, adotar uma abordagem diversificada e uma alocação tática pode ser essencial. Além disso, aguardar sinais mais robustos de melhora no cenário fiscal e econômico será fundamental para identificar o momento ideal de aumentar a exposição ao mercado de ações.

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Atualizado em: 20/12/2024 20:59