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R$ 14 mil a cada segundo do ano passado. Essa foi a conta paga pelo governo em juros da dívida pública em 2021. O dado revela uma das faces mais cruéis da piora da economia.
Com o mundo político disposto a mudar regras para gastar cada vez, os principais parâmetros financeiros – como câmbio e inflação – pioraram e tudo isso culminou na alta do juro.
O movimento do Banco Central, que tenta ser um freio de arrumação da economia, tem um custo nada doce e que chegou a R$ 448,39 bilhões em 2021. Neste ano, pode chegar a R$ 700 bilhões.
O juro tem subido sem parar desde março de 2021. Esse remédio é aplicado sempre quando as expectativas para a inflação começam a subir. E o gosto amargo desse medicamento aparece duas vezes.
Primeiro, no esfriamento da economia real. Com juros altos, o valor da parcela do financiamento aumenta e consumidores adiam compras. Empresários também engavetam planos de investimento porque o dinheiro rende cada vez mais no banco.
Há, porém, outra consequência que começa a aparecer nos números. É uma espécie de retrogosto: a conta dos juros. Quando a Selic sobe, o crédito fica mais caro. O problema é que o maior tomador de empréstimos em uma economia como a brasileira é o próprio governo.
O setor público toma crédito porque gasta mais que arrecada. É assim que a conta acaba sendo paga efetivamente – em bilhões de reais – pelo próprio governo. Ou, em termos práticos, pela própria sociedade.
Dados do BC mostram que essa conta aumentou 43,5% no ano passado, para R$ 448,39 bilhões. Todo esse valor foi para quem tem títulos do Tesouro Nacional – já que, ao investir nesses papéis, você está emprestando dinheiro ao governo federal. Portanto, esses bilhões de reais foram pagos aos investidores – seja um grande gestor de fundos em Nova York ou um pequeno investidor do interior do Brasil que tem alguns reais no Tesouro Direto.
O valor pago em 2021 é o segundo maior em termos nominal (sem descontar a inflação) da série e só perde para o conturbado ano de 2015, quando o país pagou pouco mais de R$ 500 bilhões. E o recorde deve ser batido em questão de tempo.
“Diante do aumento da taxa Selic, esperamos que os pagamentos de juro subam para patamar entre R$ 600 bilhões e R$ 700 bilhões em 2022”, avalia a agência de classificação de risco Moody’s. Se a cifra maior for alcançada, o governo brasileiro terminará 2022 com o pagamento aos credores da dívida de R$ 22 mil em juros por segundo.
Os economistas da Moody’s explicam que a conta sobe porque a taxa Selic seguirá em alta e também porque seguem as iniciativas que pioram as contas públicas. Um exemplo é a iniciativa para reduzir impostos dos combustíveis sem nenhuma medida de compensação – como no caso dos combustíveis. Além disso, lembram das incertezas geradas pelas eleições presidenciais.
Tudo isso, dizem os analistas da Moody’s, tem “afetado negativamente a confiança do mercado levando ao aumento dos prêmios de risco”.
A Instituição Fiscal Independente (IFI) concorda. “A tendência é de alta para esse indicador, tendo em vista o aperto monetário em curso e o aumento do custo médio da dívida pública”, cita o relatório de acompanhamento fiscal de março. O documento diz que há aversão crescente relacionada ao Brasil entre os investidores. “Tudo indica que essa maior aversão a risco está relacionada à perda de credibilidade e às incertezas em relação à condução da política fiscal”.
Em outras palavras: desconfiado, o mercado financeiro cobra cada vez mais para emprestar ao governo brasileiro – e a conta será paga por nós. Então, prepare-se.
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