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Juros mais altos e desaceleração da economia podem piorar níveis de inadimplência; veja como se preparar

Expectativa de um crédito ainda mais caro e restrito acende uma luz amarela sobre o endividamento no país. Consumidores devem revisar orçamento e contratos de crédito.

A nova alta de juros pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil (BC), anunciada na quarta-feira (29), levou a taxa básica do país (Selic) ao maior patamar desde setembro de 2023 – e acende uma luz amarela sobre o endividamento no país.

Segundo especialistas consultados pelo g1, o movimento, junto com a indicação de possíveis novas altas, deve tornar o crédito mais caro e restrito, aumentando a perspectiva de que as taxas de inadimplência podem subir.

O movimento ocorre após um período favorável para a economia. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, até o terceiro trimestre de 2024, o país registrou uma sequência de 13 trimestres positivos no Produto Interno Bruto (PIB).

Esse bom desempenho reflete o aumento do consumo das famílias, que tem sido impulsionado pelo mercado de trabalho aquecido.

No entanto, segundo Merula Borges, especialista em finanças da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), esse cenário tende a mudar.

“A inflação tem sido persistente, o que faz com que as famílias acabem precisando usar uma parte maior do orçamento para despesas básicas, sobrando menos espaço para o consumo. Isso, somado ao aumento de juros, também impacta a capacidade de pagamento de dívidas”, explica.
Os juros são uma ferramenta usada pelo Banco Central (BC) para controlar a inflação. Ou seja, os juros sobem para reduzir o consumo das famílias e, consequentemente, diminuir a inflação – e vice-versa.

Por isso, especialistas indicam que a última alta das taxas anunciada pelo Copom já era amplamente esperada pelo mercado. Além de uma atividade econômica ainda forte, há grande incerteza sobre o futuro das contas públicas do país — outra variável que influencia as expectativas de inflação.

Segundo Fernando Lamounier, educador financeiro e sócio da Multimarcas Consórcios, o novo aumento da Selic pode acabar aumentando o endividamento das famílias e comprometendo sua capacidade de pagamento.

"Quando a taxa de juros sobe, as parcelas tendem a aumentar e muitos brasileiros podem ter dificuldades em manter seus pagamentos em dia. Isso leva a um aumento da inadimplência, dificultando ainda mais o acesso ao crédito e comprometendo a recuperação econômica das famílias", diz.
Por isso, especialistas indicam que, apesar do crescimento na concessão de crédito nos últimos meses e da inadimplência não ter aumentado significativamente, a expectativa é que este ano seja “mais difícil”, com crédito mais caro e restrito para o consumidor final.

“E do lado das instituições financeiras, quando a taxa básica aumenta, sobram dois caminhos: ou elas emprestam menos, ou emprestam no mesmo nível, mas correndo um risco maior de inadimplência”, explica Caio Macedo, vice-presidente de estratégia e marketing da Equifax Boa Vista.

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Como se preparar para os impactos da alta de juros?
Segundo especialistas consultados pelo g1, esse é um bom momento para os consumidores revisarem seus orçamentos e contratos de crédito.

De acordo com Macedo, da Equifax, se o crédito tomado for ajustado pelos juros (pós-fixado), é importante entender como a nova alta da Selic pode afetar as parcelas pagas pelo consumidor.

“É preciso fazer a conta. Colocar no papel o quanto você ganha, qual a sua renda disponível e fazer uma projeção de quanto ficará a parcela. Se a taxa de juros é variável no seu contrato de crédito, isso pode aumentar o custo do que você paga”, explica o executivo.
A mesma dica, acrescenta Macedo, vale para famílias que tiveram uma redução na renda familiar, como pela perda de um emprego. “Se houve alguma perda na renda, esse também pode ser um bom momento para ir no banco, explicar a situação e buscar formas de honrar seu compromisso”, completa.

Borges, da CNDL, reforça a necessidade de fazer um acordo que seja condizente com a realidade de pagamento.

“Se conseguir evitar entrar em dívida por enquanto, pode ser a melhor escolha. Mas, se precisar fazer um acordo, é preciso organizar as finanças. Principalmente porque a maioria dos acordos não cumpridos acontece porque o consumidor compromete o dinheiro que serviria para pagar contas básicas”, afirma a especialista.
“Então, é importante fazer acordos realizáveis, mesmo que isso custe um tempo maior de negativação e sem consumo”, complementa.

Dicas para superar o endividamento
O educador financeiro Lamounier separou cinco dicas para os consumidores conseguirem organizar as finanças.

Veja abaixo.

Faça um diagnóstico da situação: faça um levantamento de todas as suas contas, registrando o valor de cada uma, as taxas de juros aplicadas e as datas de vencimento. Isso proporcionará uma visão clara sobre quais despesas devem ser quitadas com maior urgência.
Priorize o pagamento das dívidas: atente-se às dívidas com juros elevados, como cartão de crédito ou cheque especial. Além disso, tente negociar as condições. Muitas vezes, os credores oferecem opções de parcelamento ou descontos à vista.
Crie um orçamento mensal: faça um planejamento de todos os seus gastos mensais. Nele, coloque tudo o que é essencial antes de pensar em despesas menos prioritárias.
Evite o uso excessivo do crédito: apesar da praticidade, o uso excessivo do cartão de crédito pode levar ao endividamento rápido. Se for necessário utilizar o cartão, procure sempre quitar a fatura integralmente até o vencimento, para fugir dos juros.
Evite novos empréstimos: tente não recorrer a novos empréstimos ou financiamentos para cobrir dívidas antigas. Embora pareça uma solução rápida, isso pode aumentar ainda mais sua carga financeira.

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